Tabus
Todos os criadores, sejam eles amadores ou não, têm assuntos dos quais não gostam. E como não gostam, não falam deles. O problema é que, os assuntos incómodos não deixam de existir por os ignorarmos.
Ao abrir uma página sobre tabus, não quero dizer que eu não tenha os meus; tenho. Porém, o meu tabu não é dos mais comuns; são as anilhas. E não é o acto de anilhar que me desagrada, não. Também não é ver as aves com anilhas. É pensar que, a ave pode prender a anilha em algum lado, ficando presa e a debater-se. Eu sei que é praticamente impossível isso acontecer; mas que posso eu fazer? Contudo, isto não invalida que eu reconheça a utilidade e, em alguns casos, a necessidade de anilhar as aves… mas as minhas, não.
Mas a finalidade desta página é falar dos tabus mais comuns.
A dor
É um dos assuntos mais ignorados pelos criadores; quase, como se temessem ter que assumir as dores das suas aves. Se repararem bem, verão que, é um assunto quase omisso, em fóruns, blogs, artigos, etc., com alguma excepção de algumas publicações especializadas na área de saúde animal.
A verdade é que, as aves não têm uma expressão facial que nos chame a atenção, não choram, não gemem, nem gritam, mas, não é preciso pensar muito para entender que, sentem a dor. O criador tem obrigação de conhecer as suas aves: Cada uma do seu modo, todas dão sinais, quando estão a sofrer: Embolar, esconder a cabeça, pousar o peito, esticar a cabeça para trás, encolher as patas, movimentos lentos, fechar os olhos, babas, etc., podem ser sinais a ter em conta. Cabe-nos estarmos atentos e interpretar esses sinais.
E não se pense que, por as aves serem pequeninas, a dor também é menor. Não é possível afirmar-se com certeza absoluta, mas é natural que seja, até, maior, uma vez que, o sistema nervoso central das aves é mais eficiente que o nosso, no que diz respeito às funções vitais; e a dor é o sinal de alerta por excelência.
Põe-se aqui um problema: O que fazer para ajudar a ave com dor? Resposta difícil. Podemos tentar eliminar a causa da dor, mas isso pode demorar algum tempo. Podemos ir à loja dos produtos para animais e, dificilmente encontraremos ajuda. Podemos ir ao veterinário, mas quantos de nós o fazemos? E o veterinário poderia ajudar, eficazmente?
Por experiência própria, acho que a solução mais simples e com alguns resultados, é usar o que está mais à mão; o paracetamol que temos em casa para as nossas dores:
· Mergulhar um pedacinho de comprimido em água e dissolvê-lo até a água ficar turva.
· Com uma seringa sem agulha, dar duas a três gotas no bico da ave e deitar o resto no bebedouro.
· Em cerca de 20 minutos consegue ver-se alguma melhoria.
Mas atenção; diminuir ou eliminar a dor, não elimina as suas causas. É preciso ficar atento e perceber o que está errado com a ave, para que se possa corrigir.
O “adormecimento”
É o maior tabu dos criadores em geral.
Todos nós podemos ter que encarar, algum dia, o facto de termos que “adormecer” uma ave. Há situações, quer por acidente quer por doença grave, em que nos é impossível ajudar as nossas aves a sobreviver, com um mínimo de qualidade.
Na verdade, em alguns casos, tudo o que conseguimos é prolongar o sofrimento. Então, há que tomar a decisão de “adormecer” a ave. É sempre uma decisão difícil de tomar, mas se temos inteligência e o dever de tutela sobre estes nossos amigos, temos que saber o que é melhor para eles. Mas, as aves têm o direito de “adormecer” sem sofrimento; e nós devemos restringir ao mínimo o nosso próprio sofrimento.
Os métodos tradicionais são sempre traumatizantes, tanto para as aves como para nós. Os métodos químicos, através de medicamentos, reduzem o sofrimento das aves, mas não o eliminam, e, não têm em conta o sofrimento do criador. Então, o que fazer?
Com base na minha experiência pessoal em câmara hipobárica, bem como, em estudos feitos pelo departamento de fisiologia de voo da USAF, considero que a melhor forma de “adormecimento” é a chamada “morte feliz” ou “morte doce”.
· Como executar:
§ Munir-se de uma caixa hermética pequena (das que se usam no frigorifico), 20 a 30 centímetros de tubo de aquário, uma mola de papéis (ou outra desde que seja forte) e uma seringa grande (sem agulha).
§ Fazer um furo na caixa, da medida do diâmetro do tubo.
§ Introduzir a ponta do tubo na caixa e vedar com cola ou silicone.
§ Na outra ponta do tubo, introduzir o bico da seringa, de modo a ficar hermético.
§ Colocar a seringa na posição de vazia.
§ Meter a ave na caixa e fechá-la.
§ Com a seringa, começar a extrair o ar, de forma lenta e progressiva. À medida que a pressão for diminuindo, a ave vai parecer que está a melhorar, porque vai ter uma sensação de bem-estar.
§ Quando a seringa estiver cheia, dobre o tubo, segure-o com a mola (para que não passe ar), retire a seringa e esvazie-a.
§ Volte a colocar a seringa e reponha a situação inicial.
§ Continue a retirar o ar. A ave vai começar a ficar descoordenada mas activa; depois, vai passar a um estado de inconsciência.
§ Continue a retirar ar, até não conseguir tirar mais.
§ Bloqueie o tubo e deixe ficar assim por uma hora.
§ Ao fim de uma hora, pode desdobrar o tubo, deixar equalizar as pressões, dentro e fora da caixa, e pode abrir a caixa.
§ A ave vai estar “adormecida” irreversivelmente.
A ave, em nenhum momento, teve algum sofrimento. Pelo contrário, sentiu-se bastante bem.
Por isso, fique descansado; fez o que tinha que ser feito, do modo mais doce possível.