Todos os criadores,
amadores ou não, alguma vez, ir-se-ão confrontar com alguma doença nas suas
aves. Isto, normalmente, é causa de muita preocupação e, em certos casos, de
desespero; não é incomum ver-se que, o criador fica mais doente que a própria
ave.
Importa manter a calma,
para se chegar a um diagnóstico correto e, a partir daí, se poder dar o melhor
tratamento, em função da doença em causa. É, também, importante que se
interiorizem alguns conceitos básicos, que nos vão ajudar:
· As
aves em geral, e os pequenos exóticos em particular, são bastante resistentes e
pouco dadas a manifestações de sofrimento. Daqui resulta que, a grande maioria
das pequenas maleitas que as podem afectar, nunca vão chegar ao nosso
conhecimento; são debeladas pelo organismo da ave, sem que cheguem a aparecer
sintomas visíveis.
· Quando
aparecem sintomas, é porque a doença se reveste de alguma gravidade e, regra
geral, requer algum tipo de intervenção da nossa parte.
· Para
intervirmos correctamente, precisamos conhecer a fundo as nossas aves; as
características da espécie e os hábitos de cada ave em particular. Aquilo que
pode ser apontado como um sintoma, numa determinada ave, pode ser um hábito
noutra ave da mesma espécie. Um bom exemplo disto é o dormir com a cabeça
debaixo da asa; é um sintoma de sofrimento, mas, todos nós já observámos que,
algumas aves o fazem habitualmente.
· São
muito poucas as doenças que apresentam um único sintoma. A caracterização de
cada doença faz-se pela observação de um leque de sintomas e não por um em
particular, embora, em algumas, exista um sintoma mais característico. No
entanto, este sintoma pode não ser um dos que nos chamam mais a atenção. É,
pois, importante que, ao sermos alertados por algum sintoma, procuremos
verificar se existem outros e quais são. Ao somarmos os vários sintomas vamos
conseguir, com algum grau de certeza, identificar a doença.
· Nalguns
casos, não nos é possível, com os meios de que dispomos em casa, identificar a
doença, mas é possível isolá-la num pequeno grupo de possibilidades. Isto
acontece mais com algumas infecções. Assim, pode ser possível, usando
medicamentos que atuem sobre esse grupo de doenças, debelá-las, sem que
cheguemos a saber, com exactidão, qual era.
· Um
dos meios que dispomos e, muitas vezes, desprezamos é a análise visual das
fezes; esta visualização fornece muita informação, que pode ser de extrema
valia. É o equivalente, em termos caseiros, às análises laboratoriais de
sangue, urina e fezes, que todos nós fazemos mais ou menos amiúde. Pode não ser
muito agradável de fazer, mas é muito útil.
· O
que nunca se deve fazer, ao tentar diagnosticar uma doença, é partir do
pressuposto de uma determinada afecção e buscar os sintomas. Neste acaso, o
mais provável, é “encontrarmos” sintomas que não existem e diagnosticarmos,
erradamente, o que procuramos e não a verdadeira doença.
· Vários
são os casos em que, as doenças ou os tipos de doenças, se repetem numa mesma
ave ou numa mesma descendência. Por isso, pode ser muito importante o
conhecimento do histórico de saúde da ave e da sua ascendência, para se fazer o
diagnóstico correcto.
· Em
muitos casos é possível estabelecer uma analogia entre a sintomatologia das
aves e a nossa. Porém, devemos ter presente que, há doenças específicas das
aves que não têm paralelismo nos humanos. Também devemos ter em atenção que,
devido ao seu metabolismo mais acelerado, nas aves, o desenvolvimento das
doenças, e também das curas, é bastante mais rápido.
·
Algumas vezes, boa parte dos sintomas encontram-se nas
instalações e no ambiente circundante. Estar atento a qualquer alteração que
apareça, pode, também, ser uma boa ajuda.
Uma vez diagnosticada a
doença, passa-se à fase da medicação. Também aqui, há que interiorizar alguns
conceitos, até porque existem muitas ideias erradas, neste campo.
· Todos
os medicamentos são maus, porque têm sempre efeitos indesejáveis, mas são
necessários para ajudar a debelar determinadas doenças.
· Os
medicamentos que fazem bem “a tudo”, não existem.
· A
qualidade e efetividade dos medicamentos nada tem que ver com o seu preço.
Muitas vezes os mais simples são os mais eficazes.
· Os
medicamentos devem ser ministrados conforme as prescrições: alterar dosagens,
modo de utilização e duração, acarreta riscos significativos, em muitos casos é
prejudicial e em alguns é fatal.
· Muitas
vezes, os criadores buscam estabelecer uma relação temporal entre a ministração
de um determinado medicamento e a cura. Isso não existe. A efectividade de
determinado medicamento, numa determinada situação, depende de inúmeros
factores. A biologia está muito para além da matemática.
· Por
vezes, os medicamentos têm pouca ou nenhuma efectividade, apesar de o
diagnóstico ser correcto e a medicação ser a indicada para o caso em questão;
isso acontece pelo estado de debilidade das aves. Acontece que, os medicamentos
precisam ser metabolizados e, nem sempre as aves estão em condições de o fazer.
· As
aves, em cativeiro, tende a ter as suas funções hepáticas debilitadas, dado o
excesso de alimentação fácil de que dispõem; nalguns casos, essas funções estão
extremamente fragilizadas, dada a quantidade de mistelas que as aves são
induzidas a consumir. Nestes casos, paralelamente à medicação, é necessário
corrigir a dieta da ave, por forma a diminuir a “carga” sobre o fígado,
facilitando a metabolização dos medicamentos.
·
No caso das doenças infecciosas e/ou parasitárias é importante
eliminar a fonte da doença, normalmente através de desinfecção e/ou
desinfestação das instalações. Caso contrário, a ave está sujeita a reinfecções
e não se vai curar.
Após cada tratamento, as
aves ficam fracas, dado que as funções vitais foram afectadas. É muito
importante dar-lhes um bom período de recobro: neste período é importante
verificar que a ave volta a comer e beber normalmente, recupera a forma física e
os hábitos antigos.
Contudo, algumas doenças
deixam sequelas permanentes ou permanecem em estado crónico. Nestes casos, há
que atender à situação de saúde da ave e dar-lhe uma vida de acordo com as suas
possibilidades.
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